28 de fevereiro de 2011

é fácil gostar

bea

Mesmo quando ainda não lhe conhecemos o cheiro. Bem-vinda, pequenina B.

22 de fevereiro de 2011

as pedras do caminho

Um caminho faz-se apanhando pedrinhas. E conchas e flores. E umas coisas brilhantes - parecem cristais, serão escamas. Sementes e coisas que parecem não servir para nada. E pimenta e açafrão. À procura do mistério das coisas, em dias felizes.


as pedras do caminho
(Kusamba, Bali, Indonésia)


vêm sôfregos os peixes da madrugada
beber o marítimo veneno das grandes travessias
trazem nas escamas a primavera sombria do mar
largam minúsculos cristais de areia junto à boca
e partem quando desperto no tecido húmido dos sonhos

vem deitar-te comigo no feno dos romances
para que a manhã não solte o ciúme
e de novo nos obrigue a fugir
vem estender-te onde os dedos são aves sobre o peito
esquece os maus momentos a falta de notícias a preguiça
ergue-te e regressa
para olharmos a geada dos astros deslizar nas vidraças
e os pássaros debicam o outono no sumo das amoras

iremos pelos campos
à procura do silente lume das cassiopeias

Al Berto

20 de fevereiro de 2011

hoje

Hoje deixei queimar o almoço e o jantar.
A coerência é subvalorizada...

a primavera já chegou ao quarto dela

a primavera do quarto dela

A beleza das árvores despidas de folhas e cobertas de flores fascina-me. Uma única fotografia não seria suficiente.

a primavera do quarto dela
a primavera do quarto dela
a primavera do quarto dela
a primavera do quarto dela

o pescador

o pescador (the fisherman)
(em Sanur, Bali, Indonésia)

19 de fevereiro de 2011

metades de mim




Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que triste
Que a mulher que eu amo seja para sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é plateia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.


[Oswaldo Montenegro]



14 de fevereiro de 2011

os livros da [minha] anita



A minha mana e o João conceberam o design gráfico dos livros do projecto Minotauro (grupo Almedina) e ela fez as ilustrações. Narrativas à parte (o que ando a ler ainda não me cativou), cada livro ficou uma pequena obra de arte. E o trabalho deles já foi devidamente reconhecido pelos seus pares: a colecção ganhou o Silver Award (European Design Awards) e foi seleccionada para fazer parte da colecção 50 Books/50 Covers (AIGA Design Archives).

Agora está sob escrutínio nacional, nomeada para os Prémios de Edição Ler/Booktailors 2010. Aqui. Eu já votei :)

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A fotografia é uma imagem do site da FBA., um berço de trabalhos de excelência.

13 de fevereiro de 2011

'lembrei-me de ti'



É tão fácil, a felicidade! Pode ser só saber que os nosso amigos se lembram de nós quando encontram sítios bonitos.

Via Ju: Flora Douville, para inspiração.
Via C.: Shinzi Katoh, uma tentação!

12 de fevereiro de 2011

cientista... ma non troppo!



Nunca poderei ser muito boa no que faço porque gosto demasiado de fazer muitas coisas!

Em Setembro voltei a fazer de actriz. Desta vez, com duas novidades: não despi o papel de cientista e aprendi a manipular marionetas e a brincar com as sombras. O mote foi dado pelo projecto europeu 'Noite dos Investigadores', no âmbito da proposta portuguesa 'Cientistas ao Palco'. Uma experiência nova, tão divertida como as anteriores. O melhor é sempre a oportunidade de conhecer pessoas novas.

Com a preciosa ajuda da Clara e do Rúben, o talento e imensa simpatia Filipa guiou-nos à construção de um espectáculo que me (nos) deu muito gosto interpretar. Aqui fica o seu nascimento, pelas palavras da Filipa:

. Agosto: os primeiros ensaios (e eu pela Indonésia :)
. Setembro: a véspera e os ensaios mais esperados
. Setembro: o grande dia!
. Setembro: finalmente as apresentações ao público
. Setembro: felizes com o resultado, o balanço da experiência e a amizade

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No próximo sábado a Filipa volta a juntar os cientistas que participaram em 2009 e vão apresentar o seu "A origem das quase espécies" na exposição (ver em actividades paralelas).

sangue na guelra



[na lota de Vila Praia de Âncora]

9 de fevereiro de 2011

correio feliz




Ontem o carteiro trouxe-nos novidades que abraçam corações.

Na revista da Amnistia Internacional, uma recordação da participação da minha menina-crescida no 11º Campo de Trabalhos para Jovens [para os mais distraídos, ela é a do casaco vermelho, na fotografia de cima :)].

Num sobrescrito A4, um novo mundo, uma outra realidade, um bocadinho mais perto de nós. Pedaços da vida da nossa afilhada Faith. A Faith mimou-nos com desenhos, palavras e uma linda pulseira. Os seus 11 anos já guardam histórias cruéis, que -esperemos- a sua nova vida se encarregará de atenuar. Mais sobre a ADDHU aqui.

6 de fevereiro de 2011

3x cinema



Não me lembro de quando nem porquê perdemos o hábito de ir regularmente ao cinema. Janeiro foi um mês de um novo regresso. Um bom regresso.


4 de fevereiro de 2011

regresso à escola



Começou aqui, num convite para participarmos nas Comemorações do Dia Mundial da Biodiversidade.

Tem-se repetido, num crescendo de admiração pelas capacidades que as crianças revelam. É só preciso dar-lhes tempo e encorajamento. E elas deslumbram-nos com argumentações correctas sobre um dos mais complexos e fascinantes problemas do nosso mundo: como divergem as populações? Como se formam novas espécies? Qual a importância da diversidade genética intraespecífica?

Sim, são crianças. Algumas ainda com 5 anos :)

não sei por onde vou. não sei para onde vou. sei que não vou por aí!



É um exercício de optimismo. Até saber por onde e para onde vou, identifico os caminhos que não quero seguir.

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A foto: Leipzig (ou a viagem que me levou ao trabalho de laboratório muitos anos depois, num instituto com condições de trabalho -e lazer!- absolutamente incríveis)
O título: o incontornável Cântico Negro, do José Régio

3 de fevereiro de 2011

a evolução de darwin revisitada




Inaugurou ontem.

Está bonita, muito bonita. À original, acrescentámos um módulo inteiramente dedicado a Portugal, ainda embalados pelo centenário da República, a Teoria Neutral de Motoo Kimura, exemplos fabulosos da evolução humana e uma selecção de animais (e plantas) que representam os principais mecanismos evolutivos.

E ainda duas actividades educativas que ajudam a perceber como se formam novas espécies, como se podem extinguir espécies, qual o impacto das acções humanas sobre a biodiversidade e tantas outras questões. O saber não tem limites (e as aplicações da teoria da evolução biológica também não :)

Em Abril, haverá actividades mil!

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Pensar num plano de actividades para uma semana foi divertido e motivante. Agora que é uma realidade, a espera para saber se corre bem -se os miúdos se vão divertir, e aprender, e querer voltar- cria borboletas na barriga!

2 de fevereiro de 2011

que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar*



A propósito da parvoíce do último post, este 'anúncio' encontrado no facebook.

Não que seja uma novidade saber que tantos colegas licenciados, com mestrado e com doutoramento andam a trabalhar a troco de 'ofertas' como a que esta senhora docente de um instituto superior público anuncia. Eu mesma já paguei bem caro a minha educação, com alguns meses de 'voluntariado'. O que me choca mais neste 'anúncio' é o despudor com que já se encara este recrutamento de trabalho qualificado gratuito, com que se 'oferece' o que devia ser parte integrante da formação de quem vai receber os dados para as suas publicações. As mesmas que poderão ou não dar o devido crédito a quem as tornará possíveis.

E o que me entristece é a aceitação que quase soa a entusiasmada de tamanha falta de respeito pelo trabalho, formação e dedicação de outros.


*Sou da geração casinha dos pais
Se já tenho tudo p'ra quê querer mais?
Que parva que eu sou

Filhos, marido estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou

E fico a pensar
Que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração vou queixar-me p'ra quê?
Há alguém bem pior que eu na tv
Que parva que eu sou

Sou da geração eu já não posso mais
Que esta situação dura há tempo demais
E parva eu não sou

E fico a pensar
Que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar

[Deolinda]